terça-feira, 27 de outubro de 2015

PASSA

Tanta gente
que passa pela gente
umas nos alisam como um pente,
outras a gente nem sente,
outras bagunçam o cabelo da gente,
e ficam na mente,
e deixam o coração batente,
outras se vão insensivelmente.
Já dizia vovô, sabiamente:
Passa boi, passa boiada.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O caminho

#ocaminho #operipatético #perder-se #vamosfugir #éprajá

#sapos


sábado, 10 de outubro de 2015

CANÁRIOS NARCISISTAS

Amarelo dourado, simpáticos e lindos são esses canários. Cintilantes à luz do dia, eles são magníficos colírios, além de cantores. Agradam aos olhos e aos ouvidos, e por isso acessam os corações com facilidade tal como fazem os músicos virtuosos e belos. Singelo amarelo solar. Apaixonantes. Indefesos e livres, inofensivos e raros.
Os daqui são tão apaixonantes que se apaixonaram por si mesmos. Pousam nos retrovisores dos carros e descobrem no reflexo possíveis parceiros tão lindos, raros e amarelos quanto eles. Tamanha beleza encanta, mas não canta. Não responde aos piados, mas ilude que corresponde. Quando o canário vai lá olhar, o outro de lá vai também. É um amor tão recíproco o de retrovisor. Dá lhes tesão, embora não tenha consumação do ato.
E os canários ficam longas horas nessa revoada narcisista. Gastam seu tempo nessa punhetação improdutiva, à primeira vista, mas que produz, no fundo no fundo, auto-estima. Não mata mesmo. Esse espelho não afoga como no mito do belo Narciso. É só amor!
Não vou contar pros canários amarelos que aquilo é uma ilusão. Vou deixá-los esvair suas energias consigo mesmos nesses aparatos reflexivos. À noitinha, estarão exaustos e dormirão em poleiros de nuvens, apaixonados e leves. Bastam os retrovisores… bastam a si mesmos. E só assim serão ótimos parceiros de ninho. Amar é não precisar do outro e voar. Só é amor quando cada um se basta o bastante.
Os daqui são tão apaixonantes que se apaixonaram por si mesmos. Pousam nos retrovisores dos carros e descobrem no reflexo possíveis parceiros tão lindos, raros e amarelos quanto eles. Tamanha beleza encanta, mas não canta. Não responde aos piados, mas ilude que corresponde. Quando o canário vai lá olhar, o outro de lá vai também. É um amor tão recíproco o de retrovisor. Dá lhes tesão, embora não tenha consumação do ato.E os canários ficam longas horas nessa revoada narcisista. Gastam seu tempo nessa punhetação improdutiva, à primeira vista, mas que produz, no fundo no fundo, auto-estima. Não mata mesmo. Esse espelho não afoga como no mito do belo Narciso. É só amor!Não vou contar pros canários amarelos que aquilo é uma ilusão. Vou deixá-los esvair suas energias consigo mesmos nesses aparatos reflexivos. À noitinha, estarão exaustos e dormirão em poleiros de nuvens, apaixonados e leves. Bastam os retrovisores… bastam a si mesmos. E só assim serão ótimos parceiros de ninho. Amar é não precisar do outro e voar. Só é amor quando cada um se basta o bastante.Os daqui são tão apaixonantes que se apaixonaram por si mesmos. Pousam nos retrovisores dos carros e descobrem no reflexo possíveis parceiros tão lindos, raros e amarelos quanto eles. Tamanha beleza encanta, mas não canta. Não responde aos piados, mas ilude que corresponde. Quando o canário vai lá olhar, o outro de lá vai também. É um amor tão recíproco o de retrovisor. Dá lhes tesão, embora não tenha consumação do ato.E os canários ficam longas horas nessa revoada narcisista. Gastam seu tempo nessa punhetação improdutiva, à primeira vista, mas que produz, no fundo no fundo, auto-estima. Não mata mesmo. Esse espelho não afoga como no mito do belo Narciso. É só amor!Não vou contar pros canários amarelos que aquilo é uma ilusão. Vou deixá-los esvair suas energias consigo mesmos nesses aparatos reflexivos. À noitinha, estarão exaustos e dormirão em poleiros de nuvens, apaixonados e leves. Bastam os retrovisores… bastam a si mesmos. E só assim serão ótimos parceiros de ninho. Amar é não precisar do outro e voar. Só é amor quando cada um se basta o bastante. (Max Hebert, Dunas de Itaúnas, 2015)

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

DISTÂNCIAS

À distância de um braço vemos dos pés à cabeça.
À distância de um braço é a mais segura.
À distância de um braço decidimos se é melhor distanciar ou aproximar.
À distância de um braço é que se conversa.
À distância de um braço passa uma moto.
A distância de um braço é o primeiro passo pra distância de um palmo.


À distância de um palmo olhamos nos olhos.
À distância de um palmo sentimos a respiração.
À distância de um palmo é melhor ficar calado.
À distância de um palmo estamos vulneráveis.
À distância de um palmo é silenciosa mas é como se berrássemos.
À distância de um palmo é vai ou racha.
A distância de um palmo é o primeiro passo pra distância de um dedo.


À distância de um dedo sentimos o calor.
À distância de um dedo estamos farejando odores.
À distância de um dedo eriçamos os pêlos.
À distância de um dedo é causa ganha.
À distância de um dedo não dá pra recuar.
A distância de um dedo é a véspera do toque.

sábado, 30 de maio de 2015

A PROVA QUE AS PESSOAS DESEJAM O MAL

Caminhões tombados
são pesadelos
que realizam sonhos.

Caminhão tombado
é o caos instaurado
é tudo dado
a ordem é levar.

Caminhão tombado
de leite condensado
é um sonho
pra véspera de feriado.

Caminhão tombado
de cerveja
vai tudo embora
antes que eu veja.

Caminhão tombado
é democracia,
distribuição de renda,
só alegria.

Caminhão tombado
de instrumento musical
é sonho da banda
de rock metal.

Caminhão tombado
que seja sem ferido,
o prejuízo é do seguro
ou do desprevenido.

Caminhão tombado
com a carga pra pegar:
ficou tudo intacto,
era livro escolar.