domingo, 12 de setembro de 2010

Aliterações em V

E tudo, não vai virar nada?
Vai virar várias coisas,
Verso, violão, voz.

Mas não viaja,
no fim não vira nada não.

O que virá?
V’ambóra!
Não vira agora.
Não virá agora.
Na virada,
tava irado.
Tô virado.
Pior é com o braço
virado pra trás.
Vira homem!
Já viramos - nos viramos sós.

O nada virou tudo.
Tudo vira nada.
Quem viver, vira.

Ensimentos Ocultos da Vó Páscoa

Não precisa terminar tudo o que começou. Faz bem deixar obras inacabadas, palavras não ditas, algumas contas pra pagar. Canse de vez quando. Ser guerreira não significa ganhar todas as batalhas.
Ame mais uns que a outros. Ame diferente. Temos direito de preferir.
Reclame de suas dores. As pessoas precisam de hipocondríacos para que se lembrem de sua saúde.
Prefira comida sem sal e magra depois de ter comido nacos de gordura bem temperado durante anos. E coma com a mão. Por que não picar o bife com os dedos?
Dance forró.
Mude de rua, mesmo que ali esteja toda sua família de amigos verdadeiros e suas desavenças. Não tenha medo de cemitério. São bons vizinhos.
Use brincos, pinte os cabelos, faça permanente, use pó-de-arroz, seja perfumada. Em ocasiões de quimioterapia, use peruca, mesmo que todos saibam que aquilo seja uma peruca. O importante é ficar à vontade. A aparência é importante. Por isso, neto homem não deve usar brinquinho. Isso é parecer mariquinha.
Aprenda a ser só. Não fique tocando nos assuntos falecidos.
Deixe os netos brincar em paz. E não ensine ao neto a receita do bolo de cenoura que ele tanto gosta, pra que o seu bolo de cenoura continue sendo único.
Não precisa sarar de todas as doenças. Seria desesperador se curar de um câncer e morrer num acidente doméstico. E no fim, morra como um passarinho.