segunda-feira, 2 de junho de 2014

FERNANDA TAKAI, PLATONICAMENTE

Quando eu era adolescente no interior de Minas, o meu amor platônico era a Fernanda Takai do Pato Fu. Eu adorava as músicas (ainda adoro, aliás). Sua voz suave me acalmava, aquela ambiguidade de menininha que cantava rock, eu achava ela a coisa mais linda desse mundo, cabelo curtinho super estiloso, minha namorada ideal teria cabelos curtos e pele branquinha igual a Fernanda Takai. Linda!

Então, aconteceu um fato que fez meu coração bater mais forte. Eu passei na UFMG, e dali a alguns meses iria morar em Belo Horizonte. E ela morava em Belo Horizonte! A hipotética possibilidade de encontrar a Fernanda Takai me fez perder a razão numa daquelas noites em que a gente fica deitado olhando o teto sem conseguir dormir, fantasiando e sonhando acordado querendo pegar no sono. Eu iria frequentar a FAFICH, a mesma faculdade que ela havia frequentado nos anos 90. Ah, se um dia eu trombasse com a Fernanda, ia dizer tudo o que eu sentia por ela. Era um delírio adolescente ficar pensando que ela ia me dar bola, mas era tão gostoso ficar delirando no escuro que eu me deixava levar. E até me vislumbrava casado com a Fernanda Takai. Era tão largo o meu horizonte de expectativas...

Aí, veio minha primeira desilusão amorosa. Eu descobri que a Fernanda Takai era casada, e com o John Ulhoa! O John?! Eu não podia acreditar. Nunca tinha reparado, mas comecei a achar ele feio demais pra ela. Tudo bem que ele era um puta artista, um guitarrista foda, um arranjador do caralho, mas… enfim, superei logo.

Vim morar em Belo Horizonte, e obviamente nunca cruzei com ela pela FAFICH. Lá estudei o que era horizonte de expectativa e espaço de experiência, e o meu espaço de experiência foi dilatando enquanto o horizonte de expectativa minguando, como é natural na vida. Assim, minha paixão platônica por Fernanda Takai foi ficando pra trás como coisa de adolescente. Ainda a admiro como artista, claro! Esses dias mesmo estava lendo um livro dela, A mulher que não queria acreditar, em algum lugar ela fala que é do tipo que pede pra tirar fotos, e vai atrás do ídolo pedindo pra cantar com ele, e que assim ela já realizou vários sonhos, mas que o Paul Mccartney ainda não respondeu.

Ironia do destino, eu acabei de encontrar a Fernanda Takai pela primeira vez, ao vivo, na portaria do Music Hall. Tinha ido ver um espetáculo-cabaré do FIT, e quando a vi eu já estava um pouco atordoado, porque tinham me vendido ingresso errado, para o show do dia seguinte, eu já estava sem chão porque tinha perdido a viagem quando ela chegou, descendo do carro, sozinha. Perdi o tino. Era agora ou nunca. Eu precisava dizer pra ela que era muito fã do trabalho dela, dizer que estava lendo um livro dela, que queria sei lá um dia tocar com ela, que eu sou músico também, pedir que ela gravasse uma música minha, que eu… ai vai, toma coragem, fala vai. Eu fiquei nesse vou-não-vou adolescente, e ela parada, encostada na parede como uma simples mortal, mexendo no celular, tão perto de mim, a dois passos. Fiquei com medo de parecer um fã meloso, tietando a coitada que foi se divertir. Mas eu precisava dizer que meu sonho era tocar com ela, era necessário, agora eu vou, até que, num impulso, ela foi em direção a entrada, o John havia chegado, entraram, e eu fiquei parado com meu ingresso pra dia seguinte na mão, sem poder fazer nada!

Aí eu lembrei o que queria dizer “amor platônico”. Mas um dia eu ainda vou falar tudo o que está engasgado aqui. Quem sabe ela lê isso,quem sabe um dia um programa de TV de domingo à tarde me dê de presente um dia de príncipe ao lado de Fernanda Takai, quem sabe ela divorcia do John, quem sabe… é hora de dormir.

Belo Horizonte, 24|05|2014 às 5:09 da manhã.

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