quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Amor Triângulo

Um amor triângulo é muito melhor que um amor quadrado!
No quadrado os lados são iguais,
Gire o quadrado, e ele está como antes.
O triângulo é plural, imprevisível. As posições infinitas.
O triângulo agrada gregos(as) e troianos(as).
O quadrado está em toda parte, é comum demais...
na janela, no quarto, no carro,
nos botões do controle remoto
no escritório,
no matrimônio.
O triângulo está em coisas mais eternas
na Santíssima Trindade,
no Δmém,
nas Pirâmides,
nos portais,
nos pingentes,
nas pontas,
nas palhetas,
nas torres,
nas bandeiras que gritam por LIBERDADE.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A bolsa sobe e desce e a vida continua

Em 2008, os diários do mundo inteiro mostraram o caso de Bernard Madoff, então com 71 anos, condenado a 150 anos de prisão pelo maior esquema fraudulento da história, que lhe rendeu 65 bilhões de dólares. O esquema é conhecido nos meios econômicos como pirâmide financeira, ou Ponzi. Madoff prometia retornos altos aos investidores, porém, esse dinheiro não vinha do rendimento das aplicações, mas da entrada de novos clientes. Um novo investidor pagava o lucro do outro, ou seja, remunerava-se os primeiros participantes pelos últimos que entrassem no jogo. Entretanto, o problema foi colossal quando, no início da atual crise financeira nos Estados Unidos em fins de 2008, os investidores tentaram resgatar seu dinheiro junto à Madoff, que, obviamente, não tinha dinheiro pra todos. Nessa lista dos enganados havia muitos famosos, o que deu ainda mais repercussão ao caso. Madoff foi desmascarado e, em 2009, condenado à 150 anos de detenção, e provavelmente vai ficar o resto de seus dias na prisão. Antes, pediu desculpas, e se disse muito arrependido.
Os manuais de economia nos ensinam que os bancos criam dinheiro. Não que eles tenham autonomia pra emitir moeda, essa é uma prerrogativa do Banco Central. Mas, quando um dos correntistas dos bancos injeta dinheiro, esse capital não fica estático esperando ser sacado, o banco utiliza esse dinheiro para novos investimentos, e pode emprestá-lo a outros bancos, que por sua vez emprestam a seus clientes. Nessa cadeia, cria-se moeda virtualmente. Nominalmente o dinheiro existe, mas seria um caos se todas as pessoas resolvessem sacá-lo ao mesmo tempo, que ele não existe suficiente para todos. Em essência, é o mesmo esquema fraudulento de Bernard Madoff. Ou seja, o crime que condenou Madoff é rotina bancária.
***
No livro “De notícias e não notícias fez-se a crônica”, de Carlos Drummond de Andrade, publicado em 1974 pela José Olympio Editora, encontra-se a crônica Mulher na Bolsa, uma bem humorada crítica ao sistema financeiro:
“-Jóias? Apurou tudo para investir.
Assim, o interesse em possuir jóias, carro, apartamento, cede ao interesse em possuir títulos que permitam comprar jóias, carro, apartamento. Para não comprar. Para ter a representação abstrata, virtual, desses e de outros bens. Se amanhã aquela senhora deixar o Copa e for morar numa pensão da Rua do Resende, tomando o seu ônibus para ir ao escritório da corretora, não a lastimemos, pois não decaiu de status. Tem no quarto um baú de ações de siderurgia, eletricidade, petróleo, para negociá-las amanhã, na alta. Mulher sabe o que faz.” (DRUMMOND. De notícias e não notícias fez-se a crônica, p. 154)

Ultimamente, surgiu o movimento Occupy Wall Street, que contesta a atuação dos agentes do mercado financeiro em tempos de crise. Os manifestantes estão acampados desde 17 de setembro no distrito financeiro de Nova York para contestar a crise econômica e os abusos do setor bancário. O filósofo e escritor esloveno Slavoj Zizek visitou o acampamento do movimento no parque Zuccotti e disse, num discurso, que “estamos testemunhando como o sistema está a se autodestruir”. Como bom habitante do meu tempo desengajado, eu torço, mas não dou o braço a torcer.

domingo, 28 de agosto de 2011

SOBRE ELES


Doutor, acho que estou com síndrome do pânico. Eles estão em todos os lugares! Todos falam dEles! São tão criticados que a única certeza que tenho é que Eles são maus! Não, doutor, Eles não são vozes...
Eu quase ingressei nas FARC porque ouvi dizer que os colombianos das selvas combatiam Eles. O padre disse na missa que Eles são falsos profetas. Que Eles prometem o céu mas conduzem ao inferno. Que Eles também precisam da graça do Pai. Disse até que Eles conseguem passar pelo buraco da agulha igual os camelos.
Cheguei a pensar que Eles fossem os japoneses, porém Eles continuaram a existir depois que a bomba acabou com os japoneses. Também cheguei a pensar que Eles fossem os socialistas, mas Eles continuaram a existir quando acabou o socialismo soviético. Não sei muito sobre política internacional, mas sei que Chávez, Fidel Castro, Almadinejad e os EUA são todos contra Eles, pelo menos esses políticos falam que Eles são assim, são assado, que Eles não vão subsistir, que Eles tem armas químicas, um tanto de coisa.
Todos os candidatos falaram contra Eles nessas eleições. Fiquei feliz de ver os políticos unidos em torno de um ideal comum, sabe?
Um louco me disse:
- Se Eles são bonitos, sou Alan Dellon. Se Eles são famosos, sou Napoleão. Se Eles tem três carros, eu posso voar. Se Eles rezam muito, eu já estou no céu.
O instrutor de homem-bomba chegou diante da tropa de alunos e disse :
-Eles fizeram tudo aquilo, agora Eles vão pagar – mostrou o seu colete recheado de bombas e depois gritou com todas as forças– E prestem atenção, porque eu vou mostrar uma vez só!
Duas fofoqueiras estavam na esquina. Juro que não gosto de escutar conversa alheia, doutor, mas não pude evitar que entrasse no meu ouvido o desabafo:
-Eles falam mal de mim? Ah, se me conhecessem como eu me conheço!
Doutor, Eles tem certeza do bem e do mal.
Eles falam muito do dia de amanhã.
Eles estão aí pro que der e vier!
Quem são Eles? O que Eles querem de nós?
Será que vai ficar elas por elas?

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Ensaio Metodológico de História Cultural Comparada do Tempo Presente entre Brasil e França

“Contra a Guerra, a Revolução!” - Eu escuto no Primeiro de Maio em uma conferência da Internacional Comunista em Paris, organizada contra as guerras do Imperialismo Europeu em curso na Líbia e no Egito. São bem recentes aqui alguns episódios que estão na ordem do dia nos jornais que se entregam de graça nos metrôs dessa cidade tão século XIX. Saio indignado da conferência, porque os comunistas sabem das contradições do capitalismo: a França está enviando aviões cheios de bomba à Líbia, na África do Norte, contra o coronel Kadhafi, justificando-se nos jornais do metrô aos pais franceses que emprestam seus filhos à guerra dizendo que nós estamos enviando ajuda humanitária aos revoltosos que se levantam contra à ditadura libiana que já tem uns 40 de duração (1969). Essa é a mesma França que há duas semanas ameaçou de sair do espaço Schengen depois da “inaceitável irresponsabilidade” do governo italiano que concedeu 20 mil vistos à tunisianos, da mesma África do Norte à qual se envia ajuda humanitária. Os tunisianos chegaram às ilhas italianas em um navio clandestino. Ora, os tunisianos em sua maioria falam francês e têm parentes tentando a vida aqui na França e claro, com a liberdade de trânsito dentro do espaço Schengen, vieram direto pra França xenófoba de Sarko – que diga-se de passagem é odiado por todos os franceses que não vêem a hora das eleições do ano que vem para se livrarem desse pauvre con . Sarkosy teve que ir bater um papo com Berlusconi, primeiro ministro da Itália, pra revisar esse tal de espaço Schengen. Se você teve dificuldade de entender o que se passa aqui, não culpe a sua inteligência medíocre ou a minha escrita confusa.
A atual história da Líbia começa com sua independência da Itália em 1951, à qual segue um período de monarquia que teve fim com a ascensão da Liga Árabe em 1969, liderada pelo general Abdel Nasser, do Egito. É nesse contexto de protecionismo do petróleo e pan-arabismo que aparece o coronel Muammar Khadafi, que expulsou os efetivos militares estrangeiros e decretou a nacionalização das empresas, dos bancos e dos recursos petrolíferos do país. Desde então, Kadhafi está no poder, mas vem sofrendo ultimamente com a sublevação dos opositores de seu governo, que por sua vez são apoiados por uma coalizão internacional. Kadhafi teve semana passada sua casa bombardeada pelas forças da OTAN, lideradas pela França e com o apoio da ONU.
Em Benghazi, bastião dos rebeldes, houve comemoração com tiros para o alto durante esta madrugada (01 de maio) após o anúncio da morte de Saif al-Arab, filho mais novo de Kadhafi. Por essas e outras, sou um historiador se sentindo no eixo dos fatos. Até a pouco, os fatos beiravam à inexistência, nas páginas “internacionais” dos jornais brasileiros, ou nos comentários de Willian Bonner. A História ainda está acontecendo para eles.
Estudando História do Brasil, digo, História Geral à partir do Brasil, a gente se sente um pouco fora da História. Tudo parece tão longe, inalcançável. Nada nos concerne, e é bom que assim seja. O Brasil felizmente está à par e à parte da História deste velho continente. Eles, ao contrário, estão muito à par da nossa História, sobretudo a recente. Nós ficamos nos debruçando sobre a nossa História Colonial porque ainda estamos preocupados em nos entender, em construir nossa memória. A eles interessa a nossa História recente, a História das Relações Internacionais, a nossa diplomacia. Eles não falam em outra coisa que nos emergentes, na China-Índia-Brasil-África-do-Sul.
Eles criaram a História Cultural, a princípio, para efeitos de dominação, como convém ao McDonald’s saber que os muçulmanos não comem qualquer carne, mas que é imperativo que seja carne Hallal – proveniente de animais degolados segundo o preceito islã de sacrifício – e que para abrir sucursais de fast-foods pelo mundo árabe afora era necessário um selinho Hallal no Big Mac. Nós aprendemos a mesma História Cultural, mas aprendemos porque aquela outra História não nos convinha, era muito belicosa e somos pacifistas. Aprovamos, porque no fundo adoramos outras culturas. A História Cultural deles ainda nos domina, eles a sustentam para nos vender seus livros de cultura geral extremamente interessantes. Entretanto, o meu professor de História Contemporânea na Sorbonne não fala outra coisa que História Política, Diplomacia. Seus conselhos aos novos historiadores são do gênero “é preciso saber os conceitos de História Econômica, porque com essa crise, ela está em vias de voltar.”
A História para eles tem fins políticos, a História para nós é vendida em livraria como diversão de fim de semana. Nós falamos em aproximação da História e da Literatura e discutimos Hayden White, enquanto uma rápida passada de olhos pelo levantamento bibliográfico deles faz remarcar a palavra guerra. A política aqui acontece e controla a vida a das pessoas. A política no Brasil está ilhada no planalto central, e só acontece de quatro em quatro anos. A política externa no Brasil é passa-tempo para diplomata e meio de vida fácil – quem faz o curso de relações internacionais no Instituto Rio Branco está mais preocupado em viver uma vida tranqüila como cônsul ou embaixador, viajar de graça, etc. Os nossos embaixadores são escritores, ex-presidentes, poetas. Os embaixadores deles são hommes d’affaires, burocratas. A política externa brasileira não é um nó-cego como a deles, somos pacifistas e só metemos o nosso bedelho na política externa assumindo posições conciliatórias.
O Brasil está mais próximo da autarquia que eles, e isso os enche de inveja, sobretudo quando a crise dos outros bate-lhes a porta. O Brasil, sem querer, caminhou para a anarquia que eles teorizaram com maestria de utopistas, e aliás, tentaram tanto colocar em prática, sem sucesso. Eles abrem museus de arte africana como o Musée du Quai Branly, repleto de lindas peças arqueológicas trazidas quando da colonização, mas da raça negra não querem mais que estátuas de madeira e a mão de obra barata, que aliás, já é suficiente, não precisa vir mais ninguém! O Brasil tem mulatos. O Brasil foi colônia, eles ainda não perderam o espírito colonizador. O Brasil vive o presente, eles ainda falam em sonho europeu. A França é o país com a maior poupança do mundo, o Brasil é consumista e compra à prestação. Nós somos patriotas, eles são nacionalistas. O canibalismos para eles é barbárie, nós fazemos da antropofagia um movimento artístico. Nossos monumentos estão de braços abertos, os deles são arcos do triunfo e estátuas eqüestres.
Por essas e outras, o manifesto antropofágico caiu no esquecimento. Cansamos de engolir essa cultura elitista, nobre. Chegou a hora de vomitá-los. Mais que isso, vomitar sobre eles! Regorgitofágico.
Paris, 1 de Maio de 2011.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Amigo Imaginário


"Deus: meu amigo imaginário", li na camiseta de uma devota francesa. Pensei: quem tem amigo imaginário é criança ou esquizofrênico. Logo, Deus é uma infantilidade e/ou esquizofrenia(. ! ? ... ,) - a pontuação é escolha sua e podemos discutir.

"Dieu: mon ami imaginaire", j'ai lu sur le t-shirt d'une dévote française. J'ai pensé: ceux qui ont des amis imaginaires sont ou les enfants, ou les schizophréniques. Donc, Dieu c'est une infantilité et/ou une schizophrénie (. ! ? ... ,) - le choix de pontuation c'est à vous et on peut discuter.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O Dilema do Aplicador

Você vai ganhar um dinheirinho que vai fazer toda a diferença no final do mês. Você recebeu um treinamento, todas as instruções foram passadas. Qualquer eventualidade é só você chamar o coordenador do setor. Você esperava uma sala cheia de colegiais, mas sua sala é individual. Nela, só existem vocês dois. Você vai aplicar o exame para um cego.
Enquanto ele lê com as pontas dos dedos silenciosos todos os enunciados deveras longos, você sente dó: ele parece estar em franca desvantagem em relação aos outros candidatos. Aquela reação dele só pode ter sido de desespero. Você acha que ele está cansado. Você sempre achou um exagero desnecessário os enunciados do ENEM, agora, então, você acha uma injustiça.
Ele se sente a vontade com você. Conta sua vida, o acidente, seus sonhos: quer ser psicólogo. Você pensa que psicólogo é uma boa profissão para um cego. Será um bom profissional, vai ter uma boa escuta. Você sempre achou que cegos eram bons só na música. Talvez também na massoterapia. Na verdade, você não acreditou muito quando contaram sobre o fotógrafo francês que era cego. Agora você incluiu a psicologia.
Agora é hora da redação. O seu papel é ser um austero monge copista. Ele vai ditar a palavra e depois soletrá-la. Mas por essa você não esperava. Casa não é com z. Susseço? Pense rápido. O que você vai fazer? Não há ninguém num raio de 20 metros. E só você e sua consciência. È a sua chance de favorecer um desfavorecido. Mas existem outros cegos fazendo a prova, e se os outros aplicadores não tiverem a mesma ética de favorecimento de desfavorecidos que você? Você estará sendo injusto. Você estará sendo injusto? To corrigir or to not corrigir, eis a questão.