quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A bolsa sobe e desce e a vida continua

Em 2008, os diários do mundo inteiro mostraram o caso de Bernard Madoff, então com 71 anos, condenado a 150 anos de prisão pelo maior esquema fraudulento da história, que lhe rendeu 65 bilhões de dólares. O esquema é conhecido nos meios econômicos como pirâmide financeira, ou Ponzi. Madoff prometia retornos altos aos investidores, porém, esse dinheiro não vinha do rendimento das aplicações, mas da entrada de novos clientes. Um novo investidor pagava o lucro do outro, ou seja, remunerava-se os primeiros participantes pelos últimos que entrassem no jogo. Entretanto, o problema foi colossal quando, no início da atual crise financeira nos Estados Unidos em fins de 2008, os investidores tentaram resgatar seu dinheiro junto à Madoff, que, obviamente, não tinha dinheiro pra todos. Nessa lista dos enganados havia muitos famosos, o que deu ainda mais repercussão ao caso. Madoff foi desmascarado e, em 2009, condenado à 150 anos de detenção, e provavelmente vai ficar o resto de seus dias na prisão. Antes, pediu desculpas, e se disse muito arrependido.
Os manuais de economia nos ensinam que os bancos criam dinheiro. Não que eles tenham autonomia pra emitir moeda, essa é uma prerrogativa do Banco Central. Mas, quando um dos correntistas dos bancos injeta dinheiro, esse capital não fica estático esperando ser sacado, o banco utiliza esse dinheiro para novos investimentos, e pode emprestá-lo a outros bancos, que por sua vez emprestam a seus clientes. Nessa cadeia, cria-se moeda virtualmente. Nominalmente o dinheiro existe, mas seria um caos se todas as pessoas resolvessem sacá-lo ao mesmo tempo, que ele não existe suficiente para todos. Em essência, é o mesmo esquema fraudulento de Bernard Madoff. Ou seja, o crime que condenou Madoff é rotina bancária.
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No livro “De notícias e não notícias fez-se a crônica”, de Carlos Drummond de Andrade, publicado em 1974 pela José Olympio Editora, encontra-se a crônica Mulher na Bolsa, uma bem humorada crítica ao sistema financeiro:
“-Jóias? Apurou tudo para investir.
Assim, o interesse em possuir jóias, carro, apartamento, cede ao interesse em possuir títulos que permitam comprar jóias, carro, apartamento. Para não comprar. Para ter a representação abstrata, virtual, desses e de outros bens. Se amanhã aquela senhora deixar o Copa e for morar numa pensão da Rua do Resende, tomando o seu ônibus para ir ao escritório da corretora, não a lastimemos, pois não decaiu de status. Tem no quarto um baú de ações de siderurgia, eletricidade, petróleo, para negociá-las amanhã, na alta. Mulher sabe o que faz.” (DRUMMOND. De notícias e não notícias fez-se a crônica, p. 154)

Ultimamente, surgiu o movimento Occupy Wall Street, que contesta a atuação dos agentes do mercado financeiro em tempos de crise. Os manifestantes estão acampados desde 17 de setembro no distrito financeiro de Nova York para contestar a crise econômica e os abusos do setor bancário. O filósofo e escritor esloveno Slavoj Zizek visitou o acampamento do movimento no parque Zuccotti e disse, num discurso, que “estamos testemunhando como o sistema está a se autodestruir”. Como bom habitante do meu tempo desengajado, eu torço, mas não dou o braço a torcer.

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