segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

SOBRE MUDAR



Odeio poesia, vou escrever um romance, conto ou crônica...

Juscelino ia mudar. Certamente que, se quisesse, teria quem fizesse suas malas. Mas decidiu-se, soberanamente, adiar todos os discursos, inaugurações e reuniões ministeriais para esvaziar seu guarda-roupas, revirar os papéis, e espalhar pelo chão os conteúdos revolvidos das gavetas, que vão sedimentando agulhas e outros objetos metálicos, decantando no fundo os líquidos dos tinteiros e deixando flutuar as penas e papéis.
Teria a oportunidade de ser o primeiro duas vezes. O primeiro a sair do Catete por outro motivo que não deposição ou fim do mandato. E o primeiro a deitar nas camas presidenciais do Palácio do Planalto.
Seu esporte predileto era as coisas ajeitar
Reunir suas forças, gastar tempo e mudar
Jogar fora o que esquecia de jogar.
Encontrar o que um dia guardou.
Rever fotos e conceitos.
Vasculhar lugares estreitos.
Passar pra frente
o que se tornou indiferente.
Folhear livros e ver anotações
Repensar algumas ações
Confirmar mutações
Achar dinheiro no bolso
E recadinho em guarda-napo
E lembrar como foi o papo
Da princesa com o sapo.
E tocar em objetos
Sólidos
Só lidos
Sólidos para s’esconder
Só lidos para nos esconder
Nos esconderijos da gaveta.
Extra-extra! Eta!
Juscelino mudou de opinião!
Juscelino porque mudou?
“Mudo mesmo!
Não tenho compromisso com o erro!”
Mudo mesmo, mesmo mudo, falo mesmo, faça o mesmo
“Mudo mesmo!
Não tenho compromisso com o erro!”


Boa mudança!
Mude de casa,
De patrão,
De corte de cabelo
e situação.
De estilo,
Profissão,
De ritmo,
e pulsação.
De Deus,
e religião.
De fornecedor,
e alucinação.
De ponto de vista,
De supetão.
Casa nova, vida nova.
Só não adianta mudar de cova.

* Le Voyageur, Vladimir Kush.

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