segunda-feira, 28 de julho de 2014

O AMOR NOS TEMPOS DO NÃO


Adalberto foi um cara insistente. Sempre conseguia tudo o que queria com a birra, a lábia ou a insistência. Desde pequeno foram dando sinais ao Adalberto de que o ‘não’ era raro, e que não havia não tão não que não pudesse ser transformado em sim. Gostava de repetir aos quatro ventos alguns refrões de suas canções de juventude, proclamando lustradas fórmulas melodiosas de auto-confiança: tente outra vez; quem acredita sempre alcança, quem não arrisca não petisca.

Exceto com ela, que durante todos esses anos negou qualquer carinho e afeto ao Adalberto, seu admirador nada secreto. Mas Adalberto era moço bem humorado, decidido, intrépido nas suas escolhas.

Na quinta série Adalberto era franzino, com o rosto cheio de espinhas, desconjuntado, desinteressante, enfim, adolescente, e era natural que levasse um não da moça, que também nem era lá grandes coisas, mas figurava entre as mais-ou-menos da escola.

Mas como todos os que não são interrompidos, Adalberto cresceu, e ficou interessante. E de tanto insistir, malgrado os sucessivos nãos, conseguiu um dia o tão desejado sim. E porque conseguiu, foi procurar outros nãos para combater.

Pois pra Adalberto, amar é combater o não.




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